segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Lancamento do livro Ecos & Sombras de Euclides Sandoval



"Palhinha" de Euclides Sandoval no lançamento de seu livro "Ecos e Sombras" no Casarão Júlia Ferraz, em Atibaia, no dia 28 de outubro.

domingo, 4 de novembro de 2007

Ecos & Sombras: O grande aprendizado


Capa do livro



Ecos & Sombras de Euclides Sandoval é mais que um painel com textos que incitam o aprofundamento e o debate. Vai além... É antes de tudo, reflexo de um grande aprendizado de mundo. Quer seja como avô, pai, filho, amigo, ou quer seja como filósofo, ator, artista plástico, escritor, Sandoval sabe muito bem conduzir e externar suas idéias e aflições perante a sociedade, ainda em gestação, para uma percepção mais aguda da realidade.
As questões abordadas não poderiam ser de outro modo, nasceram de uma inquietação de uma busca incessante por respostas e conhecimento, foram escritas com a alma de quem vivencia suas análises e reflexões.
Ecos & Sombras é parte dessa vivência do autor, composta por momentos distintos que se unem para caracterizar o todo construído pelas significativas partes. No entanto, não há prioridades entre os assuntos abordados. Embora cada tema possa ser lido sem ter uma ordem prévia, é sumamente importante que todos sejam lidos para que se entenda a compreensão do autor sobre as manifestações humanas, como a cultura, a educação e a própria situação de ser e estar no mundo, numa sincronia entre as miríades facetas de nosso cotidiano.
Sandoval é sábio, chama-nos para uma interação, não para transmitir sábias respostas, mas para um envolvimento com as suas reflexões que também passam a ser as nossas. Ele é sábio, na medida em que não transmite o saber pelo saber, como fonte acumulativa de informações, mas vincula o leitor como um arremesso para a sua própria história de vida. É a sintonia com o outro que faz de Ecos & Sombras ter uma fecunda atualidade.
Sandoval é profético... Mas, não profecia um mundo além, coloca-nos no bojo de nosso universo, de nosso próprio mundo interior. A profecia do autor é nos fazer enxergar a nossa essência de vida, onde a resposta está em cada um de nós.
Assim nos diz: “O mundo. Ele se traduz pelo fluir dos opostos. Da outra realidade espetacular, instância superior, mais real do que se fosse só de idéias, e do qual somos o símile imperfeito, o que nos sobra é a capacidade de sonhar. Só a probabilidade profética de termos paz, harmonia e razão introduz sentido ao ato de viver.”
Sentir o mundo além das aparências, ultrapassar sua espuma que camufla uma realidade mais profunda que não se restringe a um determinado espaço e tempo. Mas o nosso mundo da finitude também representa o fascínio e o prazer. Estamos imersos neste mundo que é o de sofrimentos, felicidades e amores. Vivemos nesse paradoxo, como diz Tao-te-ching: “A infelicidade caminha lado a lado com a felicidade; a felicidade dorme ao pé da infelicidade.”
É de modo descontraído e informal que Sandoval situa a densidade de seu pensamento. Assim nos cativa e nos oferece a sua visão de mundo ao tempo em que nos incita a acompanhá-lo refazendo as nossas próprias reflexões.
A sua mensagem em busca de um mundo melhor, mais justo e mais humano, não é amarga, pois acena o negativo para sugar e inspirar o positivo, direcionando probabilidades esperançosas. Os antagônicos fluem em suas observações, fala da angústia para valorizar a felicidade. Ao mesmo tempo em que aponta que a sociedade “hipocritamente prega o perdão e pratica a vingança”, ele assinala sobre a beleza da “pureza infantil”, sobre a “seriedade de uma criança brincando”.
Sandoval é poético, está em estado de poesia. Não menciono a poesia restrita ao contexto literário, que o autor também faz com maestria, mas como um estado de pulsar o coração, inserido no ferver, na comunhão, na exaltação de viver.
Como diria Edgar Morin: “O amor faz parte da poesia da vida. A poesia faz parte do amor da vida. Amor e poesia engendram-se mutuamente e podem identificar-se um com o outro. Se a poesia transcende sabedoria e loucura, é necessário aspirarmos a viver o estado poético e assim evitar que o estado prosaico engula nossas vidas...”
A busca de sentido das coisas deve começar não no âmbito exterior, mas em nós mesmos. Entender a solidariedade e o amor como fontes do nosso viver. Conceber amor e poesia como fins e como meios é sentir a plenitude do viver.
O nosso diálogo íntimo nunca cessa, oscila entre a sabedoria e a loucura, a ousadia e a prudência, o desprendimento e o apego, enfim, vivemos numa tensão dialogal que, parafraseando Morin, “mantém permanentemente a complementaridade e o antagonismo entre amor-poesia e sabedoria-racionalidade“.
Ecos & sombras mostra um inconformismo que vem acompanhado com uma forte crença na capacidade do ser humano. Capacidade esta de estar atento ao experimento no íntimo de cada um, ampliando a atitude de escuta para com os outros e, cada vez mais, o respeito pelos complexos processos da vida.